sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

O ESPIRITO DO TEMPO



"ter uma opinião é estar vendido a si mesmo;
não ter opiniões é viver;
ter todas as opiniões é ser poeta".
(fernado pessoa)




O Espírito do tempo, diz:
vives ( tú ) numa pátria de analfabetos,
de intelectuais analfabetos
que engolem gato por lebre,
rato por morcego,
mosquito da dengue por borboleta

Pátria analfabeta, tú está de joelhos,
massacrada, poluída, sem nenhuma roupa

A Pátria que anda de farda, terno e gravata
não é a pátria do povo crioulo que não fala inglês

O Espírito dessa pátria hoje
é um esgôto a céu aberto, sem livros,
escolas e hospitais.
A culpa é minha, tua,
do tempo que escondeu o arco-íris
e derrubou as árvores

Qual é a missão da morte?
Qual é a missão da vida?

Sei para que serve essa metralhadora imbecil,
sei para que servem esses carros pretos
que sobem os morros

Espírito doente
que a cada seis segundos extermina
com seus cigarros de merda uma pessoa.

Espírito broxa
que não faz amor com mais ninguém,
és o monstro de coca-cola ou da coca-cola,
pai e mãe de um povo turvo que pouco se conhece

Não estou nenhum um pouco desesperançado,
apenas cobro de mim mesmo
um dos braços do espírito do intenso,
erguer a afiada espada da atitude

Digo para que todos devorem Artaud
e sua obra poética alucinada,
e busquem em Itamar Assunção
e Arrrigo Barnabé as janelas
e as portas para saírem
dessa torre miserável
que fede a dinheiro, sangue,
chumbo, coca e omissão

Tempo de homens mortos
que jogam lixo nas ruas,
de crianças que já não brincam,
de meninas de doze anos
que já estão grávidas

Tempo mutilado
que espalha seus filhos esfarrapados
pelas calçadas e entope os presídios

Eu moro nesse tempo,
nesse ventre acidentado
e vejo aviões derrubarem arranha-céus,
e vejo canhões peçonhentos
mastigando a carne e os ossos
dessa torrente sem fé

Eu não entro no rio Jordão
para cunhar no bronze da história
essas palavras mais que óbvias;
e também digo que as feridas
dessa pátria perturbada afloram
nas coronhas de minha pele
Mas eu tenho o Sutra de Lótus
para verter veneno em remédio,
"água em vinho, pau em pedra, cuspe em mel"


“Os poetas devem sair dos "sindicatos"
para fazerem uma arte livre.”
As mulheres devem abandonar
a escravidão patriarcal
e se tornarem as monarcas do mundo
As crianças precisam voltar a serem crianças
Você deve ler Mário Quintana e Manuel de Barros,
e eu, tomar banho e escovar os dentes.

(edu planchêz)

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