segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O POEMA QUE ESTÁ NA MASSA SONORA DO CORPO DO PEIXE



Deuses de pedra guardam
as entradas da Lusitânia
e a minha capacidade de armazenar na cabeça
dos dedos da língua que falo os sinais
que me ligam aos laços ancestrais
da pátria de meu nascimento

Embarcações jogaram-se às tormentas
para transpor as terras
dos sentimentos que se afogam
na cor da pele dos que dormem
na carne cheia de memórias

O poema que está na massa sonora
do corpo do peixe
esteve nos charcos do tempo
que envelhece as fotografias
da lembrança do tempo
que andávamos nas rendas das vinhas
da aldeia que fica cravada na epiderme
das tintas secas do livro carcomido pelo sal

Bem sei que sou gênio
porque genial é a sombra dos seres elásticos
que disseram aos anos suas sedes
de desbravar as horas e os dias
em meio às selvas do desejo
de compor o novo homem para tirá-lo do sono
de nunca avançar sobre as vielas
da barbárie que aprisiona
os que não ousam brindar
com solos de aventuras suas salas
coroadas por florões
e taças de cristal vermelho
repletas das dores dos que nunca acreditam,
dos que não pensam em estrelas movediças,
dos que se negam catar
no chão das ruas o mapa do céu,
dos que preferem envelhecer
sem abrir as páginas das paixões desvairadas

(edu planchêz)

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