segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

MEU AVÔ JOÃO




meu avô João possuía um metro e noventa de altura,
um metro e noventa de boémia,
zanzava pelas ruas nevoentas de Maceió
pelos idos da década de quarenta

pouco sei sobre esse meu ancestral
que andava com a jovem
Eugênia Planchêz
pelas noites de lua apanhando caranguejos
com uma vara mágica

vovô João foi um apaixonado por poesias reais
e visões fantásticas,
certa vez minha avó Eugênia Planchêz relatou
que ele (vovô João) chegou em casa assustado
dizendo que vira um cachorro de olhos de fogo
cruzar os portões do cemitério

há algo velado sobre esse meu avô pai legitimo de meu pai,
nunca soubemos dos lábios de Eugênia Planchêz
ao certo todas as histórias sobre vovô João

Algumas vezes meu pai me disse:
“você é tão vagabundo quanto foi meu pai”

Vovô João é uma lenda,
um personagem, um ser que veio a falecer
quando meu pai se encontrava com apenas quatro anos

Acredito que vovô João tenha sido
o grande amor da vida de minha avó Eugênia Planchêz

Eugênia Planchêz
fora uma águia leoa sem medidas,
pessoa espelho para todos nós,
eximia cozinheira, mestra no corte e costura,
artesã construtura de presépios de barro
e outros utensílios de grande utilidade
Eugênia Planchêz, senhora da grande coragem,
ela comprou uma casa juntando economias
de seu trabalho de corte e costura
mais o que ela fazia sobrar do mínimo salário
do jardineiro português
António Gomes de Carvalho,
seu segundo marido
que criará meu pai
como se fosse seu próprio filho

Esse meu avô António (de quem herdei o nome)
falava das bruxas
que costuravam a roupa no corpo das pessoas
enquanto elas dormiam ( isso em sua infância lusitana),
ele falava também da sopa de pão e vinho,
das aletrias do natal,
que quando era menino mamava em ovelhas,
dos portos que deixará para trás,
das filhas portuguesas que nunca mais viu,
lembro que ele gostava de café
com aguardente da marca“Crioula”,
vovô Antônio ia trabalhar numa bicicleta
que tinha uma lâmpada de querosene,
vovô António construía caramanchões
de cimento armado
que possuíam um lago cheio de carpas em volta,
e um aquário no meio
( esse caramanchões
eram uma espécie de gruta)

Comecei esse poema para falar de
meu avô João, mas fui me estendendo,
me estendendo...
buscando assunto,
não haverá final
(os que forem sensitivos sabem tudo
o que ficou por dizer,
lerão o restante da história nas partículas do ar)

(edu planchêz)

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