quinta-feira, 11 de março de 2010

BURACOS DA CARA










Volto ao reino marginal,
à margem direita e esquerda
da sinuosa linha que passa pelo meio

Com as lentes dos óculos um pouco embaçadas
ou mesmo arranhadas...
porque aquele que passa dos quarenta
certamente terá que empunhar um par de lentes
sobre o pau das ventas

Volto ao Reino que fica ao lado,
bem perto da cena, da zona onde nascem e morrem
todos os poemas e canções

Eu, um homem à pisar as terras
dessa achatada bola,
dessa coisa que chamam de planeta,
plano terrestre,
planície, planalto,
litoral, montanha
...
E as pessoas estão ai para falarem,
para cuspirem o que bem desejarem,
ouço o que desejo,
não possuo aquilo roxo, nem azul
...
Meu Reino fica mesmo à margem de todas
essas falas perdidas, de todos os egos,
de todos que vivem apenas para falar
...
Fico aqui apodrecendo, tocando no acre,
nos tubos por onde escorrem
os pensamentos
e as infinitas avenidas
...
Mesmo sem me mover já estou me movendo
porque pensar que uma árvore é imóvel
é não pensar,
é jogar sementes no fogo,
espermatozóides e poléns no esgoto
...
Se não quer me ouvir,
não ouça, tampe os buracos da cara,
as aberturas das flores
que nos levam às entranhas

(edu planchêz)

Nenhum comentário: