sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

OLHARES ANTIGOS



estou no Rio de Janeiro
fincado nas atlânticas matas do quarto,
nas encostas da cidade linda,
nos oratórios de pedra,
nas camadas progressivas do mar de Orfeu

poucos sabem de minha origem,
do que andei fazendo durante os passos de criança...
no distrito guanabarino Jacarepaguá...
mais precisamente no bairro Praça Seca...

mas chovia tanto por lá, a cidade era outra,
caiam dos céus pipas
e balões apinhados de lanterninhas
vindos da “chave de ouro”
detrás dos morros...

Me perdia nas estrelas,
voava sereno nas canções de roda,
nas histórias monstruosas contadas
dentro de casa e nas ruas
de meus primeiros amigos

a feira de domingo,
o vendedor de cataventos de papel...
as pessoas torrando ao sol meio-dia...
a barraca de macujás
em que meu avô materno fazia um biscate...
meu avô ficava ali conversando com as pessoas,
convidando-as para a macarronada
por ele orgulhosamente preparada,
a macarronada coberta de queijo ralado e azeitonas
era servida a todos os que frequentavam
a antiga casa da rua doutor bernardino 208

o pé de mangas espadas
da casa da vizinha em dia de ventania
jorrava mangas mais que doces
em nosso caótico jardim...

a tamarineira gigante
no fundo do quintal fora minha guardiã,
ouvi por toda uma vida
que minha mãe devorou uma bolsa
de tamarinos verdes
durante a minha gestação,
mamãe fez papai
buscar as tais frutas de madrugada

espadas de são jorge,
espadas de santa barbara...
o flamboyant das flores cor de laranja...
e os cachos de flores roxas
que não lembro o nome
compunham a estrada daquele adorado lar
de meus tios, primos...
de meus avós maternos

lembranças jorram...
lembranças são chuvas,
temporais da noite dia,
chuviscos chegados do corte agudo
das infinitas nuvens,
que só eu vejo?

(edu planchêz)


Um comentário:

Nuvens de Sons disse...

Edu, lendo suas palavras veio a lembrança da infância, de menina de trança, que gostava de ficar sentada na varanda, vendo o menino lindo da escola passar, mandar correio elegante nas festas das igrejas,e fazer poesia inocente para quem o coração palpitava...eee saudade...beijo nos pensamentos Edu amado...
Juh ♥